Por Herbert Medeiros
Em 17/01/12, 17:03
As redes sociais apresentam-se como mais uma prodigiosa ágora do mundo contemporâneo. Ganha a democracia e os cidadãos. Pois bem, estava eu a ler um artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo mas que tive acesso via facebook. O texto intitulava-se “Marcelo Cerrado, o equivocado”, do escritor e diplomata Alexandre Vidal Porto. A reflexão ali lançada descortinava o teor homofóbico da declaração do ator global que afirmou em entrevista ao jornal da Folha não desejar que sua filha de sete anos presenciasse um beijo gay na tv.
Volto a falar do valor das redes sociais para o debate democrático. Abaixo do texto de Alexandre Vidal muitos comentários no face dialogavam de forma plural com o artigo do escritor. A partir de um texto-fonte gestado em outra mídia e migrado para o universo da cibercultura, representada aqui pelo facebook e blogs, permitiu-se que múltiplos pontos de vistas promovessem uma análise do papel educativo das telenovelas quando retratam pessoas homoafetivas.
Também resolvi entrar no debate que se dava no face. Na medida em que lia os comentários fui desenhando umas perguntas cá comigo: O que são gays caricatos? O que eles revelam de tão assustador ou sublime? Onde guardamos o Crô que está dentro de nós? O que significa ser um gay comum? Gays afeminados também não são sujeitos políticos que fazem da sua ‘feminilidade’ uma forma de ação política?
Como caracterizar a fauna LGBT em sua diversidade? É desejável defini-la, caracterizá-la, estabelecer as fronteiras? Aqui são os gays afeminados. Lá são as barbies. Lá acolá são os gays sérios e comuns. Ali estão as lésbicas masculinizadas e do outro lado da pista estão as lésbicas femininas. Essa aqui é uma transexual de verdade e aquela lá é falsa. Fulana não é travesti, mas a cicrana é uma travesti legitima. Olha, fulana, aquela lá não é travesti não, é uma mulher transexual.
O que é falso e verdadeiro em relação à sexualidade, à identidade de gênero e à orientação sexual? Só temos mesmo as orientações sexuais homo, bi e hetero? O que as define? É só a atração afetiva-sexual que delimita nossa orientação sexual? Aonde nos leva nossos desejos? Enfim, as encruzilhadas dessas questões nos provocam a refletir continuamente sobre...Decifra-me ou te devoro.
Em relação à telenovela e o personagem Crô, percebemos o quanto o mesmo é alvo do deboche e da violência homofóbica na teia da narrativa. É o bode expiatório para as vilanias da Teresa Cristina, do motorista sexista e dos ‘homens’ saradões que circulam na praia. O discurso da novela eletrônica banaliza e naturaliza a homofobia cultural que traz danos físicos, psicológicos e sociais à população LGBT. Alexandre Vidal tem razão quando afirma que a atual novela global presta um desserviço à cidadania ao não retratar o universo lgbt em sua pluralidade e ainda por cima reforçar o discurso homofóbico.
É Inegável que as telenovelas têm um papel social, educativo e simbólico e seus roteiristas deveriam criar com mais regularidade personagens (heteros, homos, bi, tri, poli ) que refletissem a diversidade humana em sua complexidade. Gilberto Braga, autor de novelas da Globo, trouxe no seu último folhetim eletrônico um elenco bem mais diverso do universo LGBT. Tinha o gay afeminado, o advogado assumido e bem-sucedido, o professor universitário, o administrador de empresa, o jornalista, o funcionário de lanchonete. Infelizmente a emissora ainda tem o tabu de mostrar cenas de carinho entre casais homoafetivos. Trata esses casais como seres assexuados. Desejamos que novos ventos tragam mudanças.
Mas independente das críticas às telenovelas - críticas legitimas, diga-se - penso que cabe a espaços como as redes sociais, escola, universo acadêmico, pesquisadores, grupos de intelectuais, movimentos sociais, mídias alternativas problematizarem o conteúdo dos produtos oferecidos pela TV e outras esferas sociais, pois, quem sabe assim vamos democratizando e interferindo nos bens culturais que nos são oferecidos.
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