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domingo, 25 de outubro de 2009

Personagens gays de espetáculo em cartaz no RJ vão da sedução ao estereótipo

Fonte: MixBrasil
23/10/2009

Por Rodolfo Lima
Foto: Robert Schwenck


Dura cerca de cinco minutos a cena gay de “O Despertar da Primavera”, versão brasileira de Spring Awakening, versão musicada do texto de Frank Wedekind que traz a cena os dramas de um grupo de adolescentes do século XX. O texto é um clássico e transpassa por questões espinhosas como incesto, suicídio, aborto e homossexualidade.

Claro que o musical ameniza o peso dessas questões, porém não as ignora, apenas suaviza. Afinal o entretenimento está em primeiro plano. Claudio Botelho e Charles Moeller - os responsáveis pela versão brasileira, sabem disso e transformaram os personagens de Wedekind em anti-heróis, belos e incompreendidos. Não duvide, é tudo tão bonito e bem executado que é (quase) impossível não se encantar pela encenação. Os atores cantam, dançam, causam empatia no primeiro momento. Tanto para os jovens - que se identifica, quanto para os “adultos” que relembram passagens de sua história, tudo com ares nostálgico.

Melchior é mais pop que o original. O existencialismo presente na peça do dramaturgo está abafado com as caras, bocas e músicas que o “mocinho” executa. Elevado a categoria de novo astro, o ator Pierre Baitelle corre o risco de ser personagem de si mesmo. Desempenha seu papel na medida, sem riscos.

O risco mesmo está na composição de Moritz (Rodrigo Pandolfo). Mais engraçado que o original, Pandolfo compõe de forma caricatural o adolescente que, incapaz de ser incompreendido e de ofertar amor, se mata. Se Pierre Baitelle é o novo astro da temporada, Rodrigo Pandolfo é o mais novo talento. Rótulos a parte, ambos trazem certo glamour aos personagens.

Ou seja, a direção optou em quais dramas focar, subjugando outros. Ou tudo está na fragmentação proposta pelo musical? Fica subtendido o drama de Martha (Laura Lobo) e Ilse (Letícia Colin). Letícia protagoniza uma das melhores cenas da peça, a que canta os abusos do pai. O “casal” gay da peça ganha reforço com o desempenho de Thiago Amaral (foto). Além de belo o ator tem uma voz e um olhar na medida para seduzir qualquer pessoa. Seus olhares para o colega Ernst (Felipe Carolis) durante o decorrer da peça podem passam despercebidos, mas eles existem.

É Carolis que compõem o personagem mais afetado da história e seu gay confuso nada mais é do que uma composição estereotipada do homossexual que é motivo de piada entre os seus. Sua voz esganiçada e aguda destoa. Não sei de quem foi á idéia, é no mínino uma opção infeliz.

A montagem é toda sexualizada o que não é de todo mal, pois o elenco traz uma diversidade para agradar gregos e troianos. A direção ousou ao desnudar parte do corpo dos atores protagonistas (Baitelle e Malu Rodrigues), mas se acanhou em fazer o mesmo com o casal gay.

Obviamente este que vos escreve ansiava por esse momento. Mas não foi desta vez que Botelho e Moeller compuseram uma cena gay instigante. Personagens gays permeiam os musicais que a dupla tem no currículo. Já evidenciaram as canções de Cole Porter, trouxe a tona uma impagável Rogéria (7- O musical), fizeram graça com os enrustidos em “Avenida Q”, e imortalizaram a Geni de Chico Buarque em Ópera do Malandro – só para citar alguns exemplos.

O programa incita, os atores excitam, as músicas seduzem e tudo corrobora para exaltar o sexo como grande mola propulsora dos dramas adolescentes. Escolha qual personagem se adequa aos seus instintos mais escuros e se divirta. Fico com Thiago Amaral, não é o pop star do elenco, não foi alçado à melhor ator, mas não tem como passar despercebido. Seu personagem (Hanschen) traz algo de transgressor e absorve parte das questões de Moritz e Melchior. Ou seja: subversivo, sedutor e belo. Quer mistura mais explosiva do que essa?

O Despertar da Primavera
Teatro Villa-Lobos (Av. Princesa Isabel, 440 - Rio de Janeiro)
Quintas e sextas, às 21h; sábados, às 21h30 e domingo, às 18h.
Ingressos: de R$ 60 a R$ 80
Informações (21) 2334-7153

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