O 17 de maio, dia em que atualmente está instituído o Dia Internacional de Combate à Homofobia, tem um caráter de protesto e de denúncia
A homossexualidade deixou de ser considerada uma doença há
24 anos, em 17 de maio de 1990, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou
que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.
Contudo, o longo tempo em que os homossexuais foram tratados como doentes ou pervertidos,
entre 1948 e 1990, deixou um legado de preconceito e homofobia que persiste e
se materializa em propostas como a Cura Gay.
Apesar do reconhecimento da homossexualidade como mais uma manifestação
da diversidade sexual, as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
(LGBT) ainda sofrem, cotidianamente, as consequências da homofobia, que pode ser
definida como o medo, a aversão, ou o ódio irracional, aos homossexuais: pessoas
que têm atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo sexo.
Fotos: Elias Fontenele e Alexander Galvão/ODIA
A homofobia se manifesta de diversas maneiras e em sua forma
mais grave resulta em ações de violência verbal e física, podendo levar ao assassinato,
cujos índices já colocaram o Piauí entre os estados com mais mortes por
homofobia em todo o país. A homofobia também é responsável pelo preconceito e
pela discriminação de pessoas LGBT, por exemplo, no local de trabalho, na
escola, na igreja, na rua, no posto de saúde e na falta de políticas públicas
que contemplem a população LGBT.
O 17 de maio, dia em que atualmente está instituído o Dia
Internacional de Combate à Homofobia, além de lembrar que a homossexualidade
não é uma doença, tem um caráter de protesto e de denúncia. O ODIA propôs a
dois casais, de gays e de lésbicas, que se deixassem observar em locais
públicos de Teresina, para que a reação da população fosse flagrada. Foram
muitos os olhares surpresos e às vezes debochados registrados em poucos
minutos. Os casais, ao fim, lembraram: “o olhar de preconceito está sobre nós a
vida inteira”.
ODIA flagra reações
Fim de tarde de uma quarta-feira com temperatura amena em
Teresina. O lugar é o Parque Potycabana. Um rapaz e sua noiva sentam-se na grama
verde do parque e, entre sorrisos e poses, são acompanhados por fotógrafos que
registram os momentos dos jovens que se casarão em breve. Muitas pessoas passam
pelo local e parecem sequer notar a presença dos dois. A alguns metros de
distância, Sandra Sousa e Natália Sousa, 35 e 23 anos, respectivamente, que
trocam beijos e abraços discretos, atraem olhares surpresos.
As reações às duas lésbicas, casadas desde abril do ano
passado, partem de pessoas de várias idades; porém, os mais velhos deixam mais
explícita sua reprovação diante das demonstrações de carinho entre as duas
moças. Os que caminham sozinhos olham uma, duas, três, incontáveis vezes,
talvez para terem certeza de que se trata de duas mulheres demonstrando em
público o amor de uma pela outra. Aqueles que passam em grupo pelo local onde estão
Sandra e Natália costumam fazer comentários uns com os outros que, tentando
disfarçar, olham repetidamente para o casal. Algumas pessoas mudam seu percurso
e se aproximam das duas, observando longamente a cena que, entre homens e mulheres
heterossexuais, é rotineira.
Adiante, Márcio Lopes e Benerval Rocha, de 22 e 23 anos,
respectivamente, conversam abraçados. As reações são ainda mais claras, em
especial dos homens que caminham por perto. As feições demonstram certa
curiosidade pela presença dos rapazes, que mantêm contato físico, embora
discreto, em um espaço público. Muitos comentam com os amigos e alertam para a
presença dos dois, para que observem as mãos dadas e o abraço entre as duas figuras
masculinas.
A reação das pessoas foi observada pela equipe de ODIA por
apenas alguns minutos, entre 17h20 e 18h, da última quarta-feira (14) e foram
muitos os flagras registrados. Os casais, que integram o Grupo Matizes, atuante
em defesa de pessoas LGBT no Piauí, foram ao parque a pedido da equipe de
reportagem e se deixaram observar pelas pessoas, com o objetivo de mostrar o
quanto o preconceito ainda é forte, embora velado, a despeito das campanhas e
iniciativas em prol do respeito à diversidade sexual.
Para Sandra, embora sem reações agressivas ou ofensivas, os
olhares revelam um estranhamento incômodo diante dos casais. Enquanto muitos
consideram normais os olhares surpresos, já que muitos homossexuais se
preservam por medo de agressões ou ofensas, os alvos se dizem incomodados, como
se a troca de carinhos entre duas pessoas, que se amam, fosse algo errado.
“Os olhares para nós duas foram registrados hoje por apenas
alguns minutos, mas nós sentimos isso na pele todos os dias, o dia inteiro”,
diz Sandra.
Ela relata que evita trocar beijos e abraços com Natália em
locais públicos por dois motivos: além do receio de alguma reação homofóbica
violenta ou mais ofensiva, reconhece que a sociedade teresinense ainda não está
preparada para a presença de gays ou lésbicas, claramente assumidos, em locais
públicos.
“Embora eu saiba que isso não tem influência nenhuma sobre a
formação de uma criança, sei também que muitos pais não querem que seus filhos
presenciem, por exemplo, um beijo entre homossexuais. Então, eu evito,
respeito, porque sei que tem gente que não quer ver. Mas eu gostaria de poder
demonstrar em qualquer lugar o meu carinho pela pessoa que eu gosto, como faz
qualquer casal hétero”, desabafa Sandra
Veja a reportagem completa na edição de hoje (17) do Jornal O DIA.
Repórter: Maria Romero
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